domingo, 21 de dezembro de 2008

FEDEU PRO LADO DO BOSTINHA

Alguns exemplos de manchetes publicadas nos jornais de Curitiba, Tribuna do Paraná e Diário Popular que trabalham na cobertura do noticiário policial. Apelativas e sempre grafadas em letras maiúsculas nas cores vermelha ou preta, estas manchetes - chamadas de capa, no jargão da redação -, ignoram qualquer manual de redação e estilo. O diretor de redação da Tribuna do Paraná, Carlos Alberto Tavares dizia que o jornal não tem um manual por escrito. “Apenas seguimos algumas regrinhas básicas”, dizia.

AS MANCHETES DOS JORNAIS DO PARANA

FEDEU PRO LADO DO BOSTINHA.
VALENTÃO FUZILA O CONCUNHADO.
MALANDRO DAVA GOLPE DO EMPREGO FÁCIL
TUDO INVENÇÃO PARA DISFARÇAR O CHIFRE DO MARIDO
ASSALTANTE FEZ O DIABO NO LITORAL.
DEZ MINUTOS DE SEXO POR UM REAL.
ELEMENTO PERIGOSO CAI NO XADREZ.
AUTOPEÇAS ERA UMA ZONA.
DESMUNHECOU E SE DEU MAL.
CRUZ MACHADO VIRA PONTO DA BICHARADA.
MOTORISTA DO CARRO DA PRINCESA ESTAVA BEBUM.
MORRE DEPOIS DE SURRAR A ESPOSA.
MORREU FAZENDO O PÃO NOSSO DE CADA DIA.
CUIDADO: TEM GATO DE OLHO NO SEU CARRO
FOI DESCANSAR NO COLO DO CAPETA.
RABUDO DO PARANÁ GANHA NA SENA.
NEGÃO BATE NA MULHER E VIRA MARICA NO XADREZ.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Mulher anos 40

Aos quarenta e, sem descer do salto
Aos quarenta, a mulher tem discernimento
Sabe o que quer; sabe o que quer fazer
Sem meias palavras, ela tem o que dizer

A mulher de quarenta tem opinião
Tem maturidade e juventude
Seus valores estão consolidados
E os valores não são outros; são mais firmes
Para acertar, sabe que pode errar

A mulher aos quarenta faz questão de ostentá-los
Festeja a data com os amigos; sabe que não é o começo
É a plenitude!

Crítica da razão mal escrita

O Ministério da Cultura deveria também advertir:
Texto mal escrito é prejudicial à saúde!

E, em caso de ingestão acidental de alguma baboseira impressa, consulte, imediatamente, a razão mais próxima de você.

No tempo de Aristóteles - 384 a.C – o que prevalecia era a oralidade. Destacavam-se aqueles homens que possuíam grande talento para a retórica (discurso). O discurso tinha que ser bem elaborado, com idéias perfeitamente ordenadas, dentro de um raciocínio lógico. Não bastava “falar bonito” – aliás isso era condenado à sua época – esses eram os chamados sofistas que dominavam a arte de “enrolar” seu interlocutor, ou o público. As obras doutrinais de Aristóteles manifestam um grande rigor científico; exposição breve e expressão clara e ordenada. A grande e única preocupação do orador era a de ser entendido, principalmente, compreendido, pelo seu público. Poderia até ser contestado, mas ele, o orador, deveria estar fortemente preparado em idéias consistentes, para um possível debate. Segundo Aristóteles, os elementos primeiros do conhecimento, da ciência – conceitos e juízos – têm que ser, num caso e noutro, tirados da experiência. Isso significa mais ou menos que não se pode discorrer sobre um assunto que não se conhece. Assim, é preciso ter certeza dos fatos para poder sair contando por aí. Mas só isso também não basta. É, necessário, acima de tudo, saber repassar essa informação, de forma clara e concisa, respeitando as regras gramaticais mais elementares do idioma no qual se escreve. Isso também significa tomar muito cuidado com o uso de expressões e gírias locais, de palavras fora de contexto. Assim, igualmente ao tempo dos filósofos gregos, quando não bastava “falar bonito” – o discurso tinha que ter consistência - não tente “escrever bonito” que vai acabar ficando feio. Mais do que fazer feio, isso fará mal aos concidadãos da sociedade para quem se escreve. Nietzsche com isso afirmava, no seu tempo (1888) que na Alemanha “escrevia-se muito mal” e, talvez, por causa de certa ignorância do povo germânico também não contestava, e tudo ficava por isso mesmo. Isso, trazidos para os nossos dias é mais ou menos a mesma coisa. Por isso, a responsabilidade de quem escreve torna-se cada vez maior. Quando analisamos que aquilo que for escrito e publicado é o que vai ficar para o aprendizado de gerações futuras, que isso vai virar aprendizado, ensinamento, verdade, mentira, ou coisa parecida, certamente, aqueles escritores mais sérios devem sentir um frio na barriga e se preparar melhor antes de sair escrevendo qualquer coisa, dando sentenças, fazendo juízos de valor. Pior ainda se tudo isso for mal escrito, de forma confusa e obscura. Então não é porque seu pai é o dono do jornal ou que o dono do jornal seja seu amigo que você poderá achar-se no direito de escrever o que você quiser, da maneira que quiser e pior, sem o pleno domínio da boa escrita. Em linhas gerais, quando Nietzsche fala que “na Alemanha se trata o escrever mal como uma prerrogativa nacional”, ele está sendo irônico com muita gente de seu tempo, com muitos escritores “festejados” pela sociedade burguesa alemã, que eram pessoas medíocres que escreviam um monte de baboseiras, de pouca compreensão. Esses “falsos escrevedores”, de acordo com o pensamento nietzscheniano se sentiam bem à vontade para escrever o que queriam porque sabia que para escrever para aquele povo acostumado à “desinformação” e um tanto preguiçoso para pensar, não demandava muito talento. Para escrever para esse público contemporâneo de Nietzsche, o escritor não necessitava imprimir, em seu texto, nem beleza na linguagem, nem profundidade no assunto. Escrever melhor é, segundo Nietzsche, “pensar melhor, descobrir sempre algo mais digno de ser comunicado e poder, efetivamente, comunicá-lo; é tornar-se traduzível”. Quem, no nosso tempo, escreve pensando com essa cabeça? Quem de nós jornalistas, principalmente que trabalha com a escrita no dia-a-dia, fica pensando como ficaria seu texto se traduzido para o idioma tal? Que esperança minha! Já me contentaria se quem está escrevendo no dia-a-dia, jornalistas, publicitários, professores universitários, entre outros atrevidos neste universo, se preocupasse em ser “compreendido”. Quantas vezes, no meu trabalho, numa assessoria de imprensa, já presenciei colegas se perguntando ou perguntando entre si: “o que é que você ‘quis’ dizer com isso aqui que você escreveu neste parágrafo?” Sempre que isso acontece me vem uma pergunta que não quer calar: já pensou se o jornalista que escreve para o jornal - seja ele do bairro pertinho da casa do leitor, seja naqueles jornalões nacionais e ou mundiais, como por exemplo, Folha de São Paulo, The New York Times – jornais com tiragens de mais de um milhão de exemplares -, já pensou se o jornalista escritor tiver que explicar aquela frase ou aquele parágrafo para o leitor - um a um? Prefiro pensar que este tipo de “escritor” não está nos jornais, pelo menos não nos grandes jornais. Aí, perdão do trocadilho, quem não está no maior é menor.Quem escreve mal lê mal. Logo, por analogia, se estão escrevendo mal, estamos lendo mal, conseqüentemente também deveremos escrever mal. E o “escrever mal” já é atávico – virou herança maldita. Por isso, o pensador alemão do final do século dezenove, concluiu no seu artigo “Aprender a escrever bem” – que são os maus escritores os grandes responsáveis pela restrição do pensamento europeu que o levava a um “nacionalismo fechado”, segundo ele, a grande doença de seu século, inimigo dos homens de espíritos livres.

Assim escreveu Nietzsche...

“O tempo do bem passou, porque o tempo das civilizações citadinas passou. O último limite que Aristóteles permitia à grande cidade - era preciso que o arauto ainda estivesse em condições de se fazer ouvir por toda a comunidade reunida -, esse limite nos limite nos aflige tão pouco quanto em geral nos afligem ainda comunidades citadinas, a nós, que queremos, nós mesmos, ser entendidos para além dos povos.
Por isso, agora, todo aquele que tem a mentalidade do bom europeu tem de aprender a escrever bem e cada vez melhor; não há escapatória, nem mesmo se ele próprio nasceu na Alemanha, onde se trata o escrever mal como uma prerrogativa nacional.
Escrever melhor, porém, significa também, ao mesmo tempo, pensar melhor; descobrir sempre algo mais digno de ser comunicado e poder efetivamente comunicá-lo; tornar-se traduzível para as línguas dos vizinhos; fazer-se acessível ao entendimento daqueles estrangeiros que aprenderam nossa língua; agir para que tudo o que é bom se torne um bem comum e que os homens livres tenham toda a liberdade; enfim, preparar aquele estado de coisas tão distante, em que os bons europeus tomarão em mãos sua grande tarefa: a orientação e supervisão de toda a civilização terrestre.
– Quem prega o contrário, quem não se afligir com o bem escrever e o bem ler – essas duas virtudes crescem juntas e diminuem juntas -, na realidade mostra aos povos um caminho para que possam tornar-se cada vez mais nacionais: aumenta a doença deste século e é um inimigo dos bons europeus, um inimigo dos espíritos livres".

Democracia do povo para o povo

Em nome da democracia todos os políticos e partidos políticos são obrigados a puxar o saco do povo. Esses mesmos políticos, porém, têm em mente que precisam, ao mesmo tempo, paparicar e manter essa gente desinformada; pior, mal informada. É preciso convencer o povo de que ele é “onipotente”; que pode tudo, que tem o dedo de Deus para ungir seu governante; por seu lado, esses governantes precisam cercar-se de cuidados para não deixar que “do meio desse povo” saia o próximo governante. E, se porventura, houver ameaça iminente disso, será preciso capturá-lo, tirá-lo de lá, levá-lo para o topo do Olympo – para, somente depois de um estágio no Olympo, na elite, devolvê-lo ao “povo” sob a forma de candidato viável. Desta vez o povo na sua verdadeira condição dentro da democracia, a condição de assembléia votante, agora autorizada e devidamente esclarecida para, inclusive, votar naquele que saíra de seu seio. O próximo escolhido pelo dedo sagrado do povo, depois de ter trilhado todos os corredores do regime democrático, poderá ser aquele “que saiu” do seio do povo – preparado. Pela elite, mas preparado.
O maior e mais recente exemplo dessa distorção da democracia é Luiz Inácio Lula da Silva, o retirante nordestino que saiu do “meio do povo” partiu para a esfera sindical e de lá, ele, seus companheiros de sindicato (no início até de partido) e o povo, talvez, até acreditaram que poderia ser ele o próximo presidente do Brasil. Não funcionou. O máximo que conseguiu foi eleger-se deputado federal. Lula e mais meia dúzia de sindicalistas da região do ABC Paulista continuaram acreditando que ele poderia ser eleito – só que a partir daí, o “povo” que realmente elege – já não estava mais convencido disso. Ele só conseguiu quando mudou de lado, indo para o lado dos que podem chegar lá, dos que estão autorizados por, sabe lá que razões, a ser governo. E o povo? Ah! O povo vota porque votar faz bem para a democracia.